De algo em algo, a gente vai levando



Olha, não sei qual dói mais. Quando acaba, quando sentimos que acabou, ou quando a gente precisa cair na real que acabou e já faz tempo.

Meu querido diário, hoje, primeiro dia do mês de agosto, eu acordei com o ouvido sustenido e o rosto maldisposto pra escrever qualquer texto entupido de alegria supervalorizada, cheio de metonímias pras pessoas entenderem um cheiro, uma dor, uma mulher triste. Eu tô tão cansada dessa estrada com a lei que eu mesmo construí pra mostrar que o cotidiano tem algum sentido. Eu tô tão cansada de defender o amor que as pessoas não vivem só pra ter assunto. Cansada de mostrar meu lado machista mas ao mesmo tempo feminista de ver e sentir as coisas. 

Cansei de sorrir amarelo e fingir que o mundo me importa e sufocar no osso a vontade de mandar às favas as pessoas e seus erros e suas carências e suas manipulações e suas opiniões e suas mentiras e suas hipocrisias. Cansei de bancar a sincera e gentil, a queridona do facebook e a simpática do twitter. 

Não sei por que as mulheres traem, como conquistar um homem. Eu só sei viver do jeito que dá, sem purpurina ou close de final de filme. Se você soubesse que cada texto é uma crítica em falsete pra cada erro meu. Se você soubesse que eu acordo todo dia doendo pra trocar o refil do pulmão. Se você soubesse o quanto eu sou egoísta. Se você soubesse do pouco que me importo comigo mesma. Se você soubesse que sou uma égua que deixou a princesa cair no caminho. Se soubesse que só pra me suportar dentro da casa onde vivo cada hora é equivalente há milhões de anos.

Eu tô tão cansada e tão sem assunto que, por um triz, não uso uma frase do Vinícius de Moraes entre linhas pra levantar geral ou até mesmo Chico Xavier. Eu tô tão cansada das pessoas acharem que um texto é uma grande revelação, uma prestação de contas, algo que eu não soube dizer, a epifania que vai afogar suas mágoas que já aprenderam a nadar de peito.

Eu tô cansada de agradar todo mundo em troca de uma coisa que eu não sei o que é, mas não paga meu desodorante de catálogo. Ou mesmo, meu perfume.

Faça-me um favor. Continue acreditando nas pessoas, no amor, em “gurias como eu”, no Vinícius de Moraes e volte aqui amanhã se não for pedir muito. Prometo fazer o mesmo.
Muitas pessoas ficaram pra trás, outras tantas deixei passar. Não sei de que lado você está. Bem. A vida segue, não sei como, mas é confortável pensar assim. Talvez eu esteja desafiando alguma lei da física, mas já tenho saudade de um futuro que não viverei. São as estradas da vida. Só se pode seguir uma delas, sem nunca saber como seriam as outras. Acontece assim também com alguns amores. 

Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras do tipo, "você-é-minha-vida", "não sei o que seria da minha vida sem você" ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando suja, entediada, agressiva, mal-humorada, triste, calada e chata. Mas aqui.

6 comentários:

  1. Anônimo8/01/2012

    Caramba, forte, lindo e emotivo rs
    perfeito linex! bj

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  2. Anônimo8/01/2012

    "Cansada de mostrar meu lado machista mas ao mesmo tempo feminista de ver e sentir as coisas. " A HA HA HA HA, sempre soube que era bipolar

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  3. Anônimo8/01/2012

    Nossa, quem v pensa q é escritora;; pf

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  4. Anônimo8/01/2012

    mal amada

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  5. Anônimo8/01/2012

    já fez melhores bj

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  6. Anônimo8/02/2012

    "Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras do tipo, "você-é-minha-vida", "não sei o que seria da minha vida sem você" ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo."

    ...PERFEITO!! VOCE É GENIA!!! Escreva mais... gosto de ler SEUS textos...

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